Luiz
Carlos D. Formiga
O Sonho é uma interrogação para muitas pessoas.
No livro de Carlos Bernardo Loureiro - “A Visão Espírita do Sono e dos Sonhos”,
Casa Editora O Clarim. Matão, SP. 144 páginas, vamos encontrar muitas
respostas.
É possível determinar relações precisas entre essas
percepções e os aspectos da realidade ordinária? Como analisar esse psiquismo
noturno?
Erick Fromm afirma que“o inconsciente só o é em
relação ao estado normal de atividade”, “ são simplesmente estados mentais
diversos, que se referem às modalidades existenciais diferentes.” Assim,
podemos admitir que a mente
consciente constitui apenas parte do psiquismo total. Existe uma vida psíquica
chamada de “inconsciência”. Esta atividade psíquica é o principal protagonista
quando o sono retira a outra de cena. Na realidade o inconsciente acha-se
representado naquela fração do sonho que se registra na memória consciente.
O que se deve pensar das significações
atribuídas aos sonhos?
“Os sonhos não são verdadeiros como o entendem
os ledores de buena-dicha, pois fora absurdo crer-se que sonhar com tal coisa
anuncia tal outra.
São verdadeiros no sentido de que apresentam
imagens que para o Espírito têm realidade, porém que, freqüentemente, nenhuma
relação guardam com o que se passa na vida corporal. São também um pressentimento
do futuro, permitido por Deus, ou a visão do que no momento ocorre em outro
lugar a que a alma se transporta. Não se contam por muitos os casos de pessoas
que em sonho aparecem a seus parentes e amigos, a fim de avisá-los do que a
elas está acontecendo? Que são essas aparições senão as almas ou Espíritos de
tais pessoas a se comunicarem com entes caros? Quando tendes certeza de que o
que vistes realmente se deu, não fica provado que a imaginação nenhuma parte
tomou na ocorrência, sobretudo se o que observastes não vos passava pela mente
quando em vigília?”Livro dos Espíritos, questão 404.
A alma é um ser pensante que permanece ativo
durante o sono? Existem provas materiais da atividade da alma durante o sono?
Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
“Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que
o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança
pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.” Livro dos
Espíritos questão 401.
A enciclopédica de Diderot (Denis, 1713-1784),
no verbete “Sonambulismo”, relata a história de um jovem sacerdote que se
levantava à noite, dirigia-se ao seu escritório e escrevia longos sermões e
retornava ao leito. Existem relatos da resolução de problemas matemáticos que
não eram resolvidos quando os indivíduos estavam acordados.
Existe uma memória latente? Os sonhos trazem à
tona lembranças julgadas esquecidas para sempre?
Seis meses depois o indivíduo sonha com o local
em que perdera o canivete. Ao despertar procura e acha o objeto (F.H. Myers, La
Concience Subliminale, Annales Phychiques). Como podemos julgar da liberdade do
Espírito durante o sono?
“Pelos sonhos. Quando o corpo repousa,
acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília.
Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire maior
potencialidade e pode pôr-se em comunicação com os demais Espíritos, quer deste
mundo, quer do outro...” Livro dos Espíritos, questão 402.
Richet (Prêmio Nobel de Medicina) descreve a
memória fotográfica de sonambulos. A eclosão desses registros mnêmonicos
subconscientes não deve ser confundida como a intervenção de seres espirituais.
Trata-se de fragmentos da vida que são exumados naturalmente ou por estímulos
especiais, das profundezas do ser (Pierre Janet).
Pode-se provocar sonhos por hipnose e induzir
uma pessoa a sonhar com outra?
Sim, responde o Dr. Sherenk-Notzing
(Munique-Alemanha) após experiência hipnótica com a sensitiva (clarividente)
Lina. Seus resultados são muito importantes para a discussão do homem como um
ser de natureza bio-psico-socio-espiritual. O pesquisador deu a sensitiva a
ordem pós-hipnótica de sonhar, na noite seguinte, com uma determinada pessoa,
não esquecer o sonho e contá-lo no dia imediato. Pela manhã, ao acordar, e em
presença dos pesquisadores, contou o que aconteceu durante a noite. A hipótese
de uma transmissão, através do pensamento de um dos pesquisadores auxiliares,
era inviável por vários motivos, até porque uma visita casual de uma amiga do
Sr. F.L., foi relatada pela clarividente e identificada, posteriormente, com
base na descrição da sensitiva.
Pode o homem, pela sua vontade, provocar as
visitas espíritas? Pode, por exemplo, dizer, quando está para dormir: Quero
esta noite encontrar-me em Espírito com Fulano, quero falar-lhe para dizer
isto?
“O que se dá é o seguinte: Adormecendo o homem,
seu Espírito desperta e, muitas vezes, nada disposto se mostra a fazer o que o
homem resolvera, porque a vida deste pouco interessa ao seu Espírito, uma vez
desprendido da matéria. Isto com relação a homens já bastante elevados
espiritualmente. Os outros passam de modo muito diverso a fase espiritual de
sua existência terrena. Entregam-se às paixões que os escravizaram, ou se
mantêm inativos. Pode, pois, suceder, tais sejam os motivos que a isso o
induzem, que o Espírito vá visitar aqueles com quem deseja encontrar-se. Mas,
não constitui razão, para que semelhante coisa se verifique, o simples fato de
ele o querer quando desperto.”Livro dos Espíritos, questão 416.
Podem duas pessoas que se conhecem visitar-se
durante o sono?
“Certo e muitos que julgam não se conhecerem
costumam reunir-se e falar-se. Podes ter, sem que o suspeites, amigos em outro
país. É tão habitual o fato de irdes encontrar-vos, durante o sono, com amigos
e parentes, com os que conheceis e que vos podem ser úteis, que quase todas as
noites fazeis essas visitas.” Livro dos Espíritos, questão 414.
O hanseniano Jésus Gonçalves, descrente, era um
materialista e dizia não acreditar em nada disso. É autor de “ Falta “,
onde diz assim: Onde andará um “não sei quê”, um Bem, em cuja busca sou
judeu errante? Por onde eu passo, já passou também... E quando chego já partiu
há instante... Não sei se está na vida, ou mais adiante, dentro da morte, nas mansões
do Além... Se está no amor... se está na fé, perante os dois altares que esta
vida tem. Mas, se esta vida é um sonho,
a morte o nada; o amor um pesadelo; a fé receio; por que manter-se em luta
desvairada? No entanto, eu sigo... acovardado, triste... a procurar em tudo em
que não creio, a coisa que me falta e não existe!
Sob o ponto de vista biomédico podemos perceber
que uma pessoa está sonhando por estranhos movimentos oculares produzidos em
certa etapa do sonho. O período REM (rapid eye movements) é “paradoxal” porque
no ápice do relaxamento vamos encontrar uma atividade intensa de numerosas
estruturas cerebrais, com variação da freqüência das ondas cerebrais e traçado
próximo ao do estado de vigília. Há nessa fase anulação do olfato e paladar, mas
as células nervosas enviam estímulos ao ouvido, aos olhos e ao sentido do
equilíbrio. Quando acordadas neste período as pessoas eram capazes de contar um
sonho.
Como interpretar o sonho que tivemos com um
ente querido já desencarnado? A tarefa não é muito fácil porque estamos
mergulhados numa matéria muito densa. No entanto, o espírito André Luiz (médico
desencarnado) nos oferece um exemplo muito bom e que é encontrado no “Os
Mensageiros” (FEB) capítulo 38, quando ela sonha com a avó desencarnada e faz a
interpretação da mensagem recebida.
Outro médico (psiquiatra ainda encarnado)
mostra a importância dos sonhos para o diagnóstico da melancolia involutiva,
destacando-a como uma síndrome com características próprias dentre as doenças
conceituadas como depressão maior. Sua conclusão, nos Arquivos Brasileiros de
Medicina, 71(3): 111-114, 1997, se baseia na análise de 118 casos.
Uma pessoa que dorme pode ter consciência de
que está sonhando?
Sim, responde o psiquiatra holandês
Dr.Frederick Willem van Eeden, que teve a confirmação feita peloDr Stephan
Laberge, na Universidade de Stanford(EUA). A mesma resposta era dada por Santo
Agostinho e São Tomás de Aquino (sonhos lúcidos).
Podemos estender o conceito de sonho a todos os
estados alterados de consciência dos quais o psiquismo profundo tende a subir
em primeiro plano, até subjugar o EU da superfície?
Podemos participar de mensagens oníricas
diurnas? Podemos sonhar acordados?
Esta dimensão diurna do sonho é um convite à
pesquisa .
Dr. M. Kleitmam da Universidade de Chicago
(“Sleep and Wakefulness”) demonstrou que, também de dia, a atenção consciente
se afrouxa em períodos, de acordo com o ritmo que corresponde perfeitamente ao
alternar noturno do sono profundo ao leve.
O estado de plena “vigilância consciente” não
dura mais do que um minuto ou dois por hora, o que é uma condição indispensável
para uma certa eficiência criadora do intelecto, conforme F. Myers, P. Bunton e
ainda John Pfeiffer (The Human Brain).
Uma mulher, diante de uma mensagem onírica
diurna, interrompe seus afazeres domésticos, chama um táxi e vai encontrar o
filho caído quase morto ao lado da moto. “O paranormal é o normal que ainda não
compreendemos!
Podem os Espíritos comunicar-se, estando
completamente despertos os corpos?
“O Espírito não se acha encerrado no corpo como
numa caixa; irradia por todos os lados. Segue-se que pode comunicar-se com
outros Espíritos, mesmo em estado de vigília, se bem que mais dificilmente.”
Livro dos Espíritos, questão 420.
O fenômeno a que se dá a designação de dupla
vista tem alguma relação com o sonho e o sonambulismo?
“Tudo isso é uma só coisa. O que se chama dupla
vista é ainda resultado da libertação do Espírito, sem que o corpo seja
adormecido. A dupla vista ou segunda vista é a vista da alma.” Livro dos
Espíritos, questão 447.
Qual a visão espírita desses fenômenos?
Sonhos fisiológicos - por influência orgânica
vive-se situações alucinatórias. Sonhos pantomnésicos - recordações do passado.
Sonhos premonitórios - apreensão do futuro,sonho profético.Sonhos espirituais -
vivência no plano espiritual.
Freud não poderia explicar o sonho profético
como realização de um desejo recalcado no inconsciente.
Como podemos julgar da liberdade do Espírito
durante o sono?
“Pelos sonhos. Quando o corpo repousa,
acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília.
Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. (Livro dos Espíritos,
questão 402).
“A árvore trará novas sementes, das quais
germinarão novas árvores. Todas estavam escondidas na primeira
semente,”Discurso de Metafísica, Leibniz (1686)
Lincoln viu, em sonho, cenas de seu próprio
velório, uma semana antes de ser assassinado, relatando-o ao amigo Ward Lamon,
que escreveu o episódio em seu diário.
É um monumental determinismo o conhecimento
antecipado do futuro! É possível modificar o “Carma”? Existem as coisas futuras
ou elas se encontram no NADA, e ainda não existem? O sonho profético é
contrário ao livre arbítrio?
É possível prever acontecimentos derivados do
presente. No entanto, como prever os que não guardam nenhuma relação com esse
estado presente? Como explicar os que são atribuidos ao acaso?
Nostradamus previu a decapitação do Duque e deu
o nome do carrasco, que foi escolhido “ao acaso”, na hora. Isto 66 anos após a
morte do médico francês (1503-1566). O cálculo matemático da probabilidade
desta predição estaria na proporção de um para cinco milhões contra o acaso.
Estando desprendido da matéria e atuando como
Espírito, sabe o Espírito encarnado qual será a época de sua morte?
“Acontece pressenti-la. Também sucede ter plena
consciência dessa época, o que dá lugar a que, em estado de vigília, tenha a
intuição do fato. Por isso é que algumas pessoas prevêem com grande exatidão a
data em que virão a morrer.” Livro dos Espíritos, questão 411.
Mas, como entender este sonho que fala do
futuro. Como explica-lo? Allan Kardec, no Livro “A Gênese” discute o assunto na “Teoria
da Presciência”.
- Palestra proferida pelo Prof. Formiga no
CENPES, Centro de Pesquisas da Petrobrás, em 1998.
- Publicado na Revista Internacional de
Espiritismo, Ano LXXIV, número 1, Matão, fevereiro de 1999.